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MARCOS RAMOS EMPOSSADO NA ACADEMIA SERGIPANA DE MEDICINA

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Em solenidade ocorrida nesta quarta-feira, 23 de novembro, foi empossado na cadeira de número 30 da ASM o médico cirurgião Marcos Ramos Carvalho, que tem como patrono o Dr.Octavio Penalva. Foi uma festa bastante concorrida, com as presenças de dois secretários de Estado, o da Cultura, José Carlos Teixeira e o da Saúde, José Lima. A solenidade foi presidida pelo Ac.Eduardo Garcia, que na abertura da sessão ressaltou as qualidades morais e profissionais do Dr.Marcos Ramos. A esposa e as filhas do empossado colocaram a opa e o medalhão, após o mesmo ter prestado o juramento de praxe. O termo de posse foi lido pelo primeiro secretário Lúcio Dias e o discurso de saudação ao novel acadêmico foi feito pelo seu colega médico e de infância Anselmo Mariano Fontes. No seu discurso, Marcos Ramos fez o panegírico do Dr.Octavio Penalva, ressaltando o lado humanista e político do saudoso obstetra. Após a solenidade foi servido um coquetel aos presentes. LEIA NA ÍNTEGRA O DISCURSO DE POSSE DO DR.MARCOS RAMOS.

 Discurso de posse do Acadêmico MARCOS RAMOS CARVALHO na Cadeira nº 30 da Academia Sergipana de Medicina, tendo como patrono o Dr. OCTÁVIO MARTINS PENALVA, na sessão solene de 23 de novembro de 2005.

 

Ilustríssimo Senhor Presidente da Academia Sergipana de Medicina,

Acadêmico Dr. Eduardo Antônio Conde Garcia,

Excelentíssimas Autoridades presentes,

Senhoras e Senhores Acadêmicos,

Colegas Médicos,

Meus Familiares,

Minhas Senhoras e meus Senhores,

Hoje é um dia especial em minha vida, “Dies Mirabileis”, expressão latina que na Roma antiga significava um dia excepcional na vida de um ser humano. Assumo com muita honra a cadeira n.º 30 desta Academia, cujo patrono é a figura imponente do Dr. Octávio Martins Penalva.

 

 

 

 

A importância da Academia encontra-se na essência do ser humano, associativo por natureza, por necessidade material, espiritual, psíquica e incluindo a intelectual. Dependemos em maior ou menor grau uns dos outros, e no ambiente acadêmico encontramos o culto ao conhecimento, a troca de informações, o companheirismo, preservação da história da Medicina, debates científicos e até criações poéticas. Por que não?

O filósofo Platão revelou sua sabedoria e alcançou a imortalidade através da poesia e na criação de diálogos dramáticos. Já Francis Bacon, um dos sábios do humanismo, acreditava no conhecimento como uma fonte de sabedoria humana. É no debate acadêmico que as idéias se renovam, mantendo o conhecimento vivo e preservando-se a memória daqueles que fizeram a nossa História.

Na Academia encontramos um ambiente de aglutinação, aqui podemos somar idéias, multiplicar conhecimentos, dividir tarefas e diminuir as dúvidas na busca constante do saber. Nunca é tarde para novos conhecimentos.

Um dos maiores gênios da intelectualidade que os Estados Unidos já produziram, Oliver Wendell Holmes, Juiz da Suprema Corte; quando este grande homem completou noventa e três anos, o presidente Franklin Roosevelt, que acabara de tomar posse, foi cumprimentá-lo, encontrando o Juiz em sua biblioteca com um volume de Platão. Rooselvet perguntou-lhe: “Diga-me senhor Juiz, por que está lendo Platão?”. Holmes responde: “Para aperfeiçoar a inteligência”.  Pois bem, é também na Academia que renovamos os nossos conhecimentos e aprimoramos o saber.

Imbuído neste mesmo propósito, aqui estou. Entro para esta Academia com muita honra, com vontade de aprender, de renovar os conhecimentos já adquiridos, e na certeza de que aqui, neste Sodalício, encontrarei uma boa fonte do saber. 

Atendendo ao regimento desta Academia, cabe-me fazer o panegírico do Patrono da Cadeira n.º 30, Dr. Octávio Martins Penalva. Assinalo que tal incumbência regimental, na verdade, é uma tarefa nobre, em razão do valor do homenageado. 

A primeira metade do século XX ficou marcada por dois acontecimentos turbulentos e trágicos na história da humanidade: a primeira e segunda guerra mundial, mas na segunda metade do século XX, a humanidade conheceu a abertura de um novo período, caracterizado pelo avanço dos direitos humanos. A promoção e defesa dos direitos fundamentais da pessoa podem e devem ser exercidos por todos, principalmente por aqueles que trabalham na área médica.

No contexto das adversidades e renascer das novas idéias do século passado, nasceu, viveu e morreu o Dr. Octávio de Martins Penalva.  Nascido em 24 de abril de 1911, na Rua Santos Dumont, n.º 17, na Cidade de Ilhéus/Ba, foi o 4º filho do casal Dr. Ruy Penalva de Faria, advogado, e Dona Helena de Oliveira Martins, tendo sete irmãos.

Foi batizado em 18 de julho de 1911. Iniciou o curso primário em Timbó, Município de Esplanada/Ba, com a Professora Iazinha Machado, posteriormente estudou em Ilhéus, com a professora Guilhermina e depois na Cidade do Salvador com a Professora Maria Saraiva. Entrou na Faculdade de Medicina da Bahia, no ano de 1929, concluindo o curso em 06 de dezembro de 1935.

         Da infância podemos recordar os seus passeios pelas fazendas do Município de Esplanada, sendo conhecido como exímio nadador, esporte praticado nas águas do Rio Itapicuru.

Dr. Octávio Martins casou-se em Propriá com a Srª Helida Tereza de Britto Penalva no dia 06 de janeiro de 1941, sendo ela filha de Hercílio Porfírio de Britto, e Ida Berenguer de Britto. O seu sogro foi prefeito de Própria, além de empresário do ramo de tecido e pecuarista.

O casal Dr. Octávio e D. Helida tiveram nove filhos, destes, cinco estão presentes entre nós, são eles: Herilo Britto Penalva, Ruy Britto Penalva, Helena de Fátima Penalva Gomes, Hercílio Britto Penalva, e Rosana de Fátima Britto Penalva

Iniciou seus trabalhos como médico nos povoados Coqueiros e Najé, no Município de Maragogipe/Ba. De 1937 a 1939 trabalhou no Hospital da Cidade de Esplanada/Ba. Mas, foi em Sergipe que consolidou sua carreira como médico, político, e construiu sua família, tornado-se conhecido como grande homem.

Em 1939 veio para a Cidade de Propriá, onde foi médico do Hospital São Vicente de Paula até março de 1964. Época em que foi presidente e médico da Associação de Puericultura, até a transferência desta Associação para Aracaju. Presidente do Hospital Regional de Propriá, de janeiro de 1955 até dezembro de 1963. Em sua gestão construiu a Capela e a área de isolamento, dando início ainda a construção do Hospital Infantil e do Ambulatório.

         A Propriá que acolheu o Jovem Médico, Dr. Octávio Penalva, uma das Cidades mais importante do baixo São Francisco, onde o Rio, motivo atual de tantas polêmicas, ainda não tão degradado, comandava, com suas enchentes, o calendário agrícola da região. A Cidade de Própria, grande centro comercial, influenciava várias cidades ribeirinhas. Sua feira era um grande acontecimento, nestes dias era intenso o movimento de ônibus, caminhões e o vai e vem das canoas no cais da Rua da Frente.

Própria cantada em prosa e versos, que inspirou o mestre Luiz Gonzaga, tornando a “Princesinha do São Francisco” conhecida nacionalmente com o baião Propriá e o Forró de Pedro Chaves. Propriá também se destacava nos esportes, com grandes espetáculos na disputa entre os times de futebol do América e do Propriá, merecendo na edição da Gazeta de Sergipe de 17 de dezembro de 1965, a referência de “Meca do Futebol Sergipano”, fatos colhidos do Livro Propriá 200 Anos. E também no tênis, esporte apreciado pelo Dr. Octávio Penalva.

Apesar do grande desenvolvimento da Cidade para a época, o trabalho do jovem médico era permeado de dificuldades. Para exercer a sua profissão deslocava-se ainda para outros municípios, não só do Estado de Sergipe, como também de Alagoas, viajando de canoa e a cavalo, até por quatro dias de viagem, arriscando a própria vida e saúde, onde em uma das vezes adquiriu malária. Mas, o Dr. Penalva nunca se arrefeceu diante das adversidades.

Transcorridos vários anos de trabalho, no seu discurso de despedida da Presidência do Hospital São Vicente de Paula, em 25 de janeiro de 1964, assim se pronunciou:

Tudo o que fiz, e sei que fiz, foi por inspiração d’alma, foi pelo culto a responsabilidade e cumprimento do dever e não para despertar elogios ou engolfar-me neles. Estou satisfeito pelo que fiz e se tivesse de recomeçar seguiria a mesma trilha. Com o silêncio tenho respondido a tudo que julgo não merecer, e estou certo que este silêncio tem sido mais valioso que tudo, fazendo refulgir a verdade. Muitas vezes, estive à beira do abismo, mas felizmente nunca me faltou o controle para esperar.”

Através destas palavras podemos traduzir como este grande homem dignificou a Medicina.

Ainda como médico, exerceu as seguintes atividades:

  • Médico da Prefeitura de Japoatã de 01 maio de 1939 a 31 de março de 1948.
  • Médico do IAPETEC a partir de fevereiro de 1948.
  • Médico do Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Bancários em Própria no período de 1947 a 1948.
  • Médico da Empresa Construtora Camilo Collier em Porto Real do Colégio/AL, no período de 01.05.1942 a 12/1944.

 

 

Em 1964 mudou sua residência para Aracaju, onde continuou suas atividades médicas, sendo:

  • Médico do IPASE, IPES, INPS e INAMPS.
  • Médico Obstetra e Ginecologista do Hospital das Clínicas Dr. Augusto Leite. 
  • Médico Obstetra e Ginecologista do Hospital Santa Izabel.

 

Para tornar a pesquisa sobre a bibliografia do Dr. Octávio Martins Penalva, um retrato fiel da sua atuação como médico, busquei entrevistar alguns dos seus pacientes, sem informa-los do objetivo do questionamento, a todos fiz a mesma pergunta: Quem foi para o senhor ou para a senhora o Dr. Octávio Penalva? E todas as respostas foram uníssonas: um bom médico, médico de família, médico de todos, médico humano, um grande homem.

 

Do Dr. Ciro Tavares, seu colega médico, que junto trabalharam na Cidade Própria, ouvi o seguinte relato: “Fui trabalhar em Propriá a convite do Dr. Nelson Melo, e quando lá cheguei encontrei o Dr. Octávio Penalva que se destacava como um bom clínico e possuidor de grande capacidade administrativa como diretor do Hospital São Vicente de Paula. Era um homem inteligente, de bom trato e um ético articulador político”.

No discurso proferido pelo Sr. João Santana Pinheiro, em comemoração aos 80 anos do 12 Tênis Clube, em Própria, assim ele relatou: “Vi numa roda eloqüente e magnífica o Dr. Ciro Tavares conversando animadamente com seus pares, os médicos, Dr. Octávio Penalva e Dr. Nelson Melo, sobre o tratamento adequado a ser aplicado num determinado paciente.”

A grandeza da alma do nosso homenageado pode ser retratada através dos seus escritos, colhidos nos registros do seu arquivo pessoal, tão gentilmente cedido pelo seu filho Herilo. Após 25 anos de exercício profissional assim escreveu:

 

Relembro aqui quão grande eram as nossas dificuldades para o exercício da profissão, tendo que atender os doentes em todo esse perímetro urbano a pé, e nos municípios circunvizinhos, a cavalo. Era edificante o estoicismo do profissional praticando o sacerdócio da Medicina nestes lugares humildes onde imperavam a miséria e a falta de higiene. Saiamos desses pobres casebres com a alma trespassada de compaixão, deixando muitas vezes, com discrição e humildade, além dos remédios, um óbulo para alimentação. Quantas vezes voltávamos àqueles mesmos lares, serenos e altivos, sem alardes e sem exibições, fazendo até sentir que aquele era um dever nosso, e quantas e quantas retirei-me quase que bruscamente, sem saber a impresão deixada, para que não vissem os olhos marejados de lagrimas pela alegria da vida que salvara, para que não percebessem o contentamento da minha alma pelo bem que fizera. Quanto me comovem essas lembranças, quão bom seria poder eternamente assim cuidar dos necessitados, lenir os sofrimentos desses pobres infelizes que pagavam mais regiamente que os potentados, porque pagam com o reconhecimento e com a gratidão.”

 

Exerceu ainda outras atividades:

 

  • Professor de História Natural do Colégio N. Srª das Graças em Própria.
  • Presidente do 12 Tênis Clube em Propriá. 
  • Presidente do Rotary Clube de Própria.
  • Secretário da Sociedade Médica de Sergipe – Aracaju.
  • Delegado Federal da Saúde - período de 27/05/1985 a 12/1986, em Aracaju.
  • Sócio Benemérito do Interact Club “Jackson de Figueiredo”, em 30/11/1972, Aracaju.
  • Sócio efetivo da Associação Sergipana de Imprensa, em 31/08/1983, Aracaju.

 

 

O Dr. Octávio Martins Penalva revelou-se ainda como um grande            Político, sendo eleito vereador por Propriá em duas legislatura, onde a segunda candidatura foi o vereador mais votado, seguido por Constantino Tavares, fato registrado pelo Jornal Correio de Própria. Neste mesmo Jornal, encontramos uma publicação de 20/10/1947, onde Dr. Octávio Martins Penalva, como Presidente da Câmara Municipal, empossa o Prefeito José Onias de Carvalho. Em 01 de maio de 1948, deixa a Câmara de Vereadores para assumir o posto do IAPETEC, em Própria.

Também como político destacou-se como Deputado Estadual, por duas vezes, no período de 1966 a 1974, onde ocupou o cargo de 2º Secretário da Assembléia Legislativa e a Liderança do MDB.

Na sua atuação parlamentar foi um brilhante orador, um excelente amigo, como assim se expressou o Secretário de Estado da Cultura, Dr. José Carlos Teixeira. No dizer do ex-deputado Leolpodo Souza, o Dr. Octávio Martins Penalva “era um reduto moral da Assembléia Legislativa, sempre fiel aos preceitos democráticos, dos quais nunca se afastou”, ressaltando também o dom da oratória do homenageado.  Do ex-governador, Dr. João de Seixas Dórea ouvi sobre ele as seguintes palavras: “homem simples, belíssimo orador, grande caráter, se impunha pela sua moral e pela sua coerência, um homem afirmativo, foi um dos grandes amigos que fiz em minha vida.”.

Sua face indescritivelmente forte, como forte era sua presença. A presença de um médico, quando diante do seu paciente representa a figura de um ser capaz de aliviar o sofrimento e a dor, e capaz de encontra a cura que o aflige.

Em razão do seu trabalho como médico recebeu em 03/04/1989, em São Paulo/SP, o título de Sócio Jubilado da Sociedade Médica Brasileira, e em 17/10/1989, em Aracaju/SE, o título de Jubilamento da Sociedade Médica de Sergipe pelo “reconhecimento a sua vida profissional”. Faleceu em Aracaju, no dia 20 de maio de 1991, tendo recebido várias homenagens póstumas, entre as quais emprestou o seu nome ao Ambulatório Central do SUS, localizado na Rua Geru, e ao imponente edifício localizado na Av. Beira Mar, na Praia Treze de Julho.

A Academia foi muito feliz em ter como patrono da cadeira n.º 30 o Dr. Octávio Martins Penalva, o hoje homenageado já pensava no ideal acadêmico, ao afirmar que

É preciso sofrear o egoísmo, consultando um ou mais colega se necessário, pois de prismas diferentes pode surgir a luz, a este zelo não só o tornará digno de si mesmo, mas ampliará o bom conceito de nossa Instituição.”

 

Senhoras e Senhores,

 

Não poderia encerrar a minha fala, sem registra alguns agradecimentos que vêem do fundo do meu coração.

 

Em primeiro lugar agradeço a Deus pelo dom da vida, por ter me feito escolher a profissão da Medicina, e pela oportunidade deste momento.

 

Agradeço às Senhoras e aos Senhores Acadêmicos a escolha do meu nome para integrar esta Academia, e o faço na pessoa do Dr. Gileno Lima, amigo pessoal, grande incentivador, exemplo de dedicação a esta Casa. Um grande Patriarca.

 

Ao Dr. Anselmo Mariano Fontes, ilustre Acadêmico, que me saudou em nome de todos que compõem a Academia Sergipana de Medicina, amigo de infância, medico competente, que tão bem exerce a sua especialidade, com dedicação e respeito aos seus pacientes.

Agradeço ao Acadêmico, Dr. José Teles de Mendonça, professor e companheiro de longa jornada, exemplo de pioneirismo, organização e criatividade, em nome do qual homenageio todos os colegas da Equipe de Cirurgia Cardiotorácica, minha especialidade.

Quero também referenciar o ilustre Presidente desta Academia, Acadêmico Dr. Eduardo Conde Garcia, homem culto, brilhante Professor da cadeira de Biofísica da Universidade Federal de Sergipe, da qual fui monitor durante três anos.

Agradeço a todos que colaboraram na pesquisa dos dados, especialmente aos médicos Dr. João Fernandes de Britto Aragão e Drª Hortência Tavares Carvalho, minha cunhada.

Aos familiares do Dr. Octávio Martins Penalva, que tão gentilmente me receberam.

Ao meu querido pai, João Airton de Carvalho, homem simples, mas que com sabedoria sabe conduzir a sua família, e aos 81 anos está sempre pronto para ajudar a todos.

À minha querida e saudosa mãe, Ednalva Ramos Carvalho, exemplo de dedicação e amor à família, presente espiritualmente, que no plano superior continua olhando por todos.

Aos meus irmãos, Marconi e Marluce, o meu carinho pelo apoio incondicional de todas as horas.

À D. Célia, sogra-amiga, e ao Sr. Demonsthenes, meu sogro, não mais presente entre nós, que me acolheram em sua família como filho, o meu muito obrigado.

Aos meus cunhados e sobrinhos pela união que nos mantem sempre juntos em todos os momentos.

As minhas filhas Larissa e Letícia, cujo amor transcende as palavras.

A minha querida esposa Lilian, amiga, companheira, conselheira, grande incentivadora, presença marcante em todos os momentos da minha vida e da minha família, minha eterna gratidão.

A todos os presentes, parentes, amigos, colegas agradeço por terem comparecido a esta solenidade de posse.

Muito Obrigado!

 

DISCURSO DO PAANINFO

 

Sr Presidente da Academia Sergipana de Medicina

Dr Eduardo Antonio Conde Garcia

Ilmo Sr Secretário da Cultura, José Carlos Teixeira

Dr Eduardo Cabral, representando o Ministério Público Estadual

Deputada Dra Angélica Guimarães

Dr José Lima, Secretário de Estado da Saúde

Magnífico Reitor da Universidade Tiradentes, Prof Joubert Uchoa

Dr Josias Passos, representando o Conselho Regional de Medicina

Dr Jorge Aldir, representando a Sociedade Médica de Sergipe

Colegas acadêmicos

Senhoras e senhores

“ A um homem nada pode se ensinar.

Tudo o que podemos fazer é ajudá-lo

A encontrar as coisas dentro

de si mesmo “

Galileu

Inicio minha fala nesta memorável Casa dizendo que esta é uma noite especial não só para o Dr Marcos Ramos Carvalho, que assume a cadeira número 30 da Academia Sergipana de Medicina cujo patrono é o Dr Otavio Martins Penalva, mas de certo modo também para mim. Para mim, porque foi uma honra ter sido lembrado pelo amigo e colega para fazer sua apresentação quando do seu ingresso nesta Academia. Dissertar sobre Vossa Senhoria talvez não seja uma tarefa fácil devido as suas qualidades e seu amor a medicina, mas que o faço muito à vontade, devido aos laços de amizade que nos aproxima e a sua família, amizade esta que vem desde os tempos de infância.

INFÂNCIA

Marcos Ramos Carvalho nasceu em 15 de abril de 1954 na cidade de Itabaiana/SE à Praça João Pessoa, em domicilio, vizinho ao antigo cinema Santo Antonio, pelas mãos da parteira local. Seus pais, José Airton de Carvalho, Itabaianense, mais conhecido por Motinha, exercia a função de supervisor dos ônibus, naquela época chamados de marinetes, do Sr Oviedo Teixeira, e após se estabelecendo em Aracaju, á rua de Laranjeiras como comerciante. Sua genitora, Ednalva Ramos Carvalho, natural de Malhador/SE exercia a atividade de costureira, arte que desempenhava com maestria, tendo falecido em 10.09.2005. “ Saudade é a eterna presença da ausência” - Guimarães Rosa. Tem dois irmãos: José Marconi Ramos Carvalho, médico e Marluce Ramos Carvalho, professora.

Com 04 anos de idade muda-se para Aracaju para uma melhor formação educacional, residindo incialmente na rua de Japaratuba e após na rua de Geru entre as ruas Lagarto e Capela, onde vive seu genitor até hoje. Sua infância foi igual a dos outros garotos da época com brincadeiras tipo jogo de botão, bola de gude, bicicletas, empinar pipa no morro do Bonfim, hoje rodoviária Luiz Garcia. Eram seus assíduos companheiros de traquinagens , José Antonio Perrucho, Josias Dantas Passos, Roberto Nogueira, seu irmão Marconi, hoje conceituados médicos em nossa sociedade. Ernestino Maciel, Otaviano Canuto e este que vos fala. Aos domingos freqüentava as matinés dos cinemas Vitória( hoje lojas Americanas), Rio Branco, Palace e após, incorporávamos as aventuras dos nossos heróis Tarzan, Durango Kid, Roy Rogers entre outros. Usávamos carrinhos de rolimã para descer ladeiras usando os sapatos como freio. Não se falava em Internet, dvd, celular. Tínhamos liberdade, fracassos, sucessos, deveres e aprendíamos a lidar com todos eles. Bons tempos. Um fato trágico porém curioso: durante uma partida de football, a bola penetra em uma residência , indo de encontro a um abajour de porcelana, fazendo o mesmo em vários pedaços. Ao procurar ver a causa do ocorrido, D. Augusta, mãe de Roberto Nogueira, não encontrou nenhum responsável pelo desastroso ato. Mais tarde, Marcos tenta reparar o erro colando os pedaços de porcelana, tarefa esta sem êxito, tendo seu pai de repor a peça. Não somente nos encontrávamos para brincar, mas também para estudar, fazendo de sua residência um Centro de Estudos. Lembra-se com certo saudosismo do Natal na Praça da Catedral com o carrossel do Tobias. Segundo seus irmãos era metódico, disciplinado em seus estudos, com excesso de zelo com seus brinquedos, principalmente uma miniatura de Kombi de cor amarela que guardava em uma caixa com tranca e cadeado. Seu quarto era fechado porque não gostava que ninguém sentasse em sua cama, fazendo ele mesmo a limpeza . Grande leitor da enciclopédia Conhecer, e da revista Manchete, sendo assíduo ouvinte da BBC onde procurava repetir as palavras que ouvia. Ia sempre as missas onde era convidado para cantar hinos.

VIDA ESCOLAR

Inicia seus estudos no Colégio Jacksom de Figueiredo concluindo o curso primário em 1965 sob a regência dos professores Benedito e Judite. Recorda-se das Profs Terezinha Mendonça e Olga. Fez o curso Ginasial e científico no Colégio Estadual Atheneu Sergipense concluindo os mesmos em 1972. Foram marcantes os profs Leão Magno Brasil, Leonor Quaranta, Rosália Bispo e Maria Augusta Lobão. Sempre se destacou nos estudos sendo merecedor das melhores notas. Em 1973 foi aprovado para o curso de engenharia química da UFS. Mas esta não era sua vocação. No ano seguinte, tenta novamente o vestibular e é aprovado para o curso de Medicina. Foi monitor de Biofísica de 1975 a 1978 sob supervisão de Dr Lourival Bonfim e após aprovado em primeiro lugar na monitoria de cirurgia, cadeira dos Profs Djenal Gonçalves, José Teles de Mendonça e Felizola. Em seus anos de faculdade lembra-se com carinho dos mestres Cleovansóstenes e Alexandre(Parasitologia Medica), Gilvam Rocha ( Fisiologia Médica) entre outros. Trabalhou no serviço do Dr José Calumby Filho pelo qual tem um agradecimento especial. Durante seu período acadêmico ensinou matemática no Colégio Jacksom Figueiredo por dois anos e biologia no pré-vestibular Esquema e no Colégio Salesiano por três anos. Concluiu o curso de Medicina em 18.12.1979 indo para o Hospital Santa Isabel em Salvador/BA, fazer residência médica em cirurgia cardíaca, sendo seu grande incentivador o Dr José Teles de Mendonça. Lá freqüentou o Serviço dos Drs Gilsom Feitosa e Nilzo Ribeiro até março/1981. Fez pós-graduação em Cirurgia Cardio-vascular pela USP/UFS sendo aprovado com louvor.

Passa a integrar a equipe de Cirurgia Cardio Vascular e Torácica do Hospital Cirurgia e são Lucas. Entre outras atividades destacamos: professor substituto de Cirurgia Cardio Vascular da UFS de 1982-1984, instrutor de residência Médica de cardiologia e cirurgia cardiovascular no Hospital Cirurgia de 1981-2004, membro fundador do Hospital do Coração, conselheiro no Conselho Regional de Medicina de Sergipe desde 1998, presidente da COOPECARD-Cooperativa dos Profissionais de Cardiologia do Estado de Sergipe. Freqüentou vários congressos e cursos relacionados a especialidade no Brasil e exterior, alguns na qualidade de debatedor, em mesas redondas e como palestrante. Médico visitante na Universidade de Coimbra, no Hospital Saint Marie em Stutgard-Alemanha e no Hospital del Niños-Buenos Aires. Autor de 12 temas livres e trabalhos, publicados em revistas nacional e internacional. Em outubro de 1991 recebe o título de cidadão aracajuano, outorgado pela Câmara Municipal . Praticante de uma medicina humanitária, compartilha suas vitórias com a equipe da qual faz parte.

FAMÍLIA

Quando em residência médica, através de um colega e amigo cardiologista, Dr Oséas Baptista, em 1980, conhece Maria Lílian Mendes, natural de Salvador. Durante o período de quatro anos, de uma simples amizade foi nascendo um sentimento mais forte e , em 11.01.1984 rende-se definitivamente ao amor casando-se na igreja Salesiano nesta mesma cidade.

“ Não há dificuldade que o amor não vença, doença que o amor não cure, porta que o amor não abra, obstáculo que o amor não transponha, muralha que o amor não derrube, pecado que o amor não redima “ -Sermão da Montanha.

Lílian ingressa no curso de Direito da Universidade Federal da Bahia em 1983, conseguindo sua transferência para Aracaju, formando-se pela Universidade federal de Sergipe em 1987. Fez concurso, com êxito, para a Procuradoria do Município e após para o Ministério Público Estadual em 1992, onde desempenha suas funções até o momento na Promotoria de Justiça da Infância e Adolescência. Desta união nasceram Larissa em 1986 e Letícia Mendes Carvalho em 1989. Nestes 23 anos de convivência, confessa sua esposa, Marcos sempre foi companheiro, solidário, humano, sempre presente. Dedicação excessiva com seus pacientes, um grande incentivador da minha profissão. Nas palavras de sua filhas: uma pessoa calma, um exemplo a ser seguido. Nossa única queixa é ele trabalhar demais. Um de seus passatempos preferidos é exercitar sua veia poética, que herdou de sua avó materna e de seu pai.

VELHO HOMEM DO CAMPO

Do alto de sua sapiência

Com seus cabelos brancos

Um velho homem do campo

... Estende a sua mão

Fala da sua angustia

Da sua vida de luta

De como na vida

Pode ganhar o pão

Agora na senilidade

Diz com magnitude

Filho ajude-me

Sou um homem do campo

Estou com os olhos em prantos

Dê-me as suas mãos

Senhoras e senhores, doutores acadêmicos. Nesta noite, Dr Marcos Ramos, o senhor brilha mais uma vez, como sempre o fez em sua vida profissional. A Academia Sergipana de Medicina sente-se honrada diante do novel acadêmico. Sou grato pelo seu convite pois me tive a oportunidade de fazer um agradável retorno ao passado. Seja bem-vindo.

Dr Anselmo Mariano Fontes

Aracaju, 23 de novembro de 2005